08 novembro 2013

A carta.


A melodia não parecia a mesma, as notas emitiam sons estranhos e a letra já não acompanhava no ritmo. Ela prometeu que nada a atingiria novamente, blindou o seu coração e tomou todas as precauções, quem disse que adiantou?

As vezes parece que tudo é uma grande mentira, todos os anos de reclusão só serviram para deixá-la a beira de um colapso nervoso. Ela observou a chegada do outono, ele preparava as árvores para o inverno. Certo? Talvez essa estação esqueceu de passar pelo seu coração, o inverno veio primeiro e ela nem sequer foi avisada. 

O vento fazia cócegas nos seus longos cabelos e o velho balanceio estava coberto de folhas alaranjadas sem vida, sem movimento, exatamente como ela. Pela última vez ela abriu a carta. Era incrível como aquelas palavras exerciam um grande poder sobre ela mesmo depois de tanto tempo.

"Perdoe-me, adeus."

Ela chorou novamente, chorou até sua visão embaçar, soluçou até o ar faltar nos seus pulmões. Ainda conseguia sentir o cheiro dele espalhado no ar, seu sorriso e sua voz voltavam com frequência para atormentá-la, mas tudo que havia restado era a carta.

Não sabia se iria arrepender-se de fazer isso, mas ela tinha certeza que não podia viver dessa forma. A carta se transformou em míseros pedaços de papel, ela ergueu as mãos e deixou que o forte vento levasse os últimos vestígios do seu amor. 

Brevemente o papel se misturaria com as folhas, depois com a chuva e finalmente desapareceria. Essa foi a primeira vez que ela seguiu em frente sem olhar para trás.

Débora Fontenele Alves. 

6 comentários:

  1. Oi Débora, tudo bom minha flor?
    Que texto forte... Muitas vezes devemos fazer igual à menina da crônica, despedaçar, deixar ir embora o que já não valida mais. Nossa vida é com os que ficam.
    Beijos

    Estante das Fadas, seu blog encantado.

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  2. Como eu já tive vontade de fazer isso, acho que as vezes até fiz, mas não mantive, acho que o medo de abandonar foi maior. Lindo texto, amei.

    http://www.todasasluas.com/

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  3. e você me surpreende mais uma vez rs
    Muito bom Débora, encatador

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  4. que texto lindo! sobre seguir em frente amei!
    bjs

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  5. Adorei o texto! As vezes tudo o que nós queremos fazer é desabar e chorar e depois finalmente conseguimos seguir em frente!

    http://alguns-livros.blogspot.com.br/

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